sábado, 25 de junho de 2011

CARTA DE UM ADOLESCENTE


Para meu pai.
         Perdoe-me pai. É importante que leia o meu desabafo. Sempre falei que, quando crescesse, queria ser igual ao senhor. Mas... infelizmente, eu mudei de idéia. Não imagina o que sofremos quando anoitece e não vem para o jantar, pois só chega em casa de madrugada; assim mesmo embriagado. Olhe, não me importo que chute os meus brinquedos, pise-os, atire-os contra as paredes, bata raivosamente em mim sem motivo quando lhe pergunto: por quê o senhor não deixa de beber? Pai, não me envergonho de usar roupas velhas, sapatos furados e nem me incomodo com o pouco alimento que como. Na verdade, nada disso teria importância se o senhor não bebesse. Por favor, não fique parado nos bares perdendo o seu tempo, seu dinheiro e, sobretudo, sua saúde, bebendo e farreando ao lado daqueles que dizem ser seus amigos. Lembre-se: nós precisamos do senhor! Eu queria apenas tê-lo em casa todas as noites para poder dizer antes de deitar-me: sua bênção, pai!!! Sabe, eu senti muita pena de vê-lo um dia desses deitado na calçada. Os garotos que passavam começaram a atirar-lhe pedras, seus cigarros estavam espalhados pelo chão, seus bolsos revirados e lá estava uma garrafa de cachaça quebrada a seus pés. Pedi para que não fizessem aquilo e eles me perguntaram: você conhece esse cachaceiro? Puxa. Pai, tive vontade de dizer NÃO!!! Mas lembrei-me de que certa vez o senhor me disse: filho, o verdadeiro homem não diz mentiras. Então, tomei coragem e respondi: sim, conheço. É meu pai! Eles riram e falaram: se fôssemos você, teríamos vergonha de chamar esse bêbado de pai! Abaixei a cabeça humilhado, meus olhos se encheram de lágrimas e chorei. Tentei erguê-lo, pedi para que se levantasse, enxuguei seu rosto suado pelo sol do meio-dia, contudo, meus esforços foram inúteis. O senhor parecia não ouvir, gemia, dizia palavras incompreensíveis e rolava de um lado para o outro na calçada imunda. Os garotos foram embora dizendo: você está lidando com pau d’água sem vergonha, deixe-o aí, pode ser que, ao tentar atravessar a rua, um caminhão passe por cima dele e o mate. Ai, pai, foi duro ouvir aquilo. Eu senti como se o mundo inteiro desabasse sobre mim. Querido pai, por que o senhor não procura um grupo de ajuda para deixar de beber? Por que não tenta? Talvez seja sua grande oportunidade. Não se envergonhe, lá eles irão recebê-lo bem. Antes de terminar, quero que saiba de uma coisa: o voto que fiz de amá-lo, respeitá-lo e querer-lhe bem, hei de cumprir sempre, mas... quando crescer, não quero ser mais igual ao senhor.
         Seu filho que te ama.

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